"Somos anjos duma asa só e só podemos voar quando nos abraçamos uns aos outros."

Pensamento de Fernando Pessoa deixado para todos os que estão na lista abaixo e àqueles que passam sem deixar rasto. Seguimos juntos!

OS AMIGOS

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

OLHAR O MAR...


Olhar o mar…
É deixar que ele desenhe com precisão os traços da minha vida. Escutar o marulhar das ondas, das ventanias e o encadeado dos mares de leva em tempos de maresias…
Olhar o mar…
É transportar-me ao céu nas asas duma gaivota, perder-me na bruma, poisar no revelim e de respiração suspensa escutar o som profundo do seu bater nas rochas enegrecidas, enquanto os barcos de pesca assomando na linha do horizonte, traziam o sustento, que calavam os silenciosos lamentos das misérias de tantas vidas…
Olhar o mar…
É fechar os olhos e repisar a praia onde cresci, sentir o ranger da areia fina debaixo dos pés e rever as pegadas diminutas de uma simples e vulgar menina. Corria, bebendo o vento da alegria como se fosse uma estrela-do-mar beijando os recantos mais profundos do seu mundo. E só parava, quando perdia o pé no vaivém da alta maré, onde uma mão forte, calejada pelos ventos do norte, a segurava.
Olhar o mar…
É sorver o cheiro a bolachinha americana,  batata frita, a bola de Berlim, sabores inconfundíveis e tão tatuados num mar de recordações sem fim.
É lembrar a exactidão com que contava cada tostão bem arrecadado numa velhinha carteira, comprada a muito custo numa banca da feira. E de mãos cheias, este pedacinho de gente, atravessava a areia quente em bicos-de-pés e aterrava na toalha pesada de tão molhada , saboreando o sol e o sal do mar a cada dentada.
Olhar o mar…
Faz-me sentir grata, abençoada e de bem com a vida. 
Neste mar estão as marcas das minhas tempestades dissolvidas. Em cada onda batida leio histórias presas às minhas memórias sem espaço, tempo ou idade.
E um dia, quando os meus pés já não alcançarem a areia fina; quando encalhar a gasta carcaça em qualquer canto, sei que correrei de novo como menina, e navegarei até encontrar o mesmo mar que me fez sonhar e ser feliz, mas também se misturou, tantas vezes, com o sal do meu pranto.

Dulce Gomes

8 comentários :

  1. Amiga Dulce,
    Um poema em prosa muito belo.
    Por vezes sentimo-nos impelidos a recuar no tempo para encontrar um pouco de conforto para a nossa alma.
    Que esse seu mar continue a ajudá-la no reencontro com as coisas belas da vida.
    Um grande beijinho.
    Ailime

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  2. Olá, querida Dulce
    O sal do meu pranto também se mistura às águas do mar perto de onde moro...
    Bjm de paz e esperança

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  3. Eu olhei esse seu mar e lhe vi, franzininha a pisar na areia. Ouvi até o ranger da areia fina debaixo de seus pés, Que bom foi olhar o mar contigo e ver em seus olhos tanta gratidão! Grande abraço!

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  4. Gosto muito de olhar o mar, dá uma
    serenidade...
    Beijinho, querida!

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  5. sem palavras ,, simplesmente ÚNICO , senti as tuas sensações nas tuas palavras ..

    sabes miga eu gosto de olhar o mar , dá-me uma sensação de paz ..

    beijinho do tamanho do mundo ...

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  6. Olá, Dulce.
    Vim visitar este seu espaço que fez com que me sentisse "abençoada"... tal como me sinto, quando fico em silêncio a olhar o mar*

    Obrigada
    bj

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    1. Olá Teresinha, bem vinda.
      Obrigada pela visita e também pelas suas palavras.
      O mar é um catalizador de paz e harmonia

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  7. Teresinha Amoroso
    (esqueci de me identificar)

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As palavras de amizade e conforto podem ser curtas e sucintas, mas o seu eco é infindável.
Madre Teresa de Calcutá